Israel Augusto Cirino*
 
A Igreja Católica Romana celebra no dia de hoje a memória de Santa Marta ou Marta de Bethânia, irmã de Maria e Lázaro. A figura de Marta se destaca no evangelho de João quando a mesma se dispõe a ir ao encontro do Mestre Jesus Cristo, não de maneira indignada por não ter sido atendido no tempo certo em que seu irmão estava morrendo, mas de maneira serviçal e humilde de expressar sua confiança Naquele que, em seu entender humano, poderia salvar teu irmão da morte “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido”. (Conf. Jo. 11.19-27) Pois bem, o que têm haver esta personagem com o atual Papa da Igreja Romana? Muita coisa. Francisco, assim como gosta de ser chamado, Bispo de Roma esteve em nosso país durante uma semana, entre os dias 22 a 28 deste ultimo domingo. Como chefe da Igreja Católica Romana, o pontífice veio cumprir seu ofício de presidente da Jornada Mundial da Juventude, evento propriamente católico, mas que nesta última edição mostrou ser um evento aberto a todos, sem distinção de credo ou instituição religiosa. Na dualidade entre Marta e Francisco, podemos fazer muitas e belas comparações, claro, não colocando a figura do Papa como um personagem bíblico, mas como um personagem que deseja expressar ao mundo atual a sensibilidade de viver segundo o Evangelho, sendo esta uma máxima de toda cristandade. Francisco assim como Marta, acolheu o convite do Senhor através da confiança. Ele, quando eleito e nós o acompanhamos bem, ao surgir na sacada pontifícia pediu em suas primeiras mensagens que o povo rezasse por ele e além da oração que trabalhasse com ele para que Jesus Cristo fosse anunciado ao mundo atual com uma eficácia ainda maior. Assim podemos dizer nesta atitude que Francisco assume a vocação de Marta: está a serviço. Deixar-se conduzir pelo Mestre, mas tendo clareza que o êxito das atividades realizadas perpassa bem quando esta está imersa na vontade do próprio Cristo, sem medo, sem temor de fracassar. Marta acolheu a vontade de Jesus quando entendeu ela, em sua desolação humana, a vida como caminho transcendental, ou seja, que a vida nesta terra é uma preparação para outra vida melhor: a vida eterna.  Assim fez nosso querido Papa nestes dias em solo brasileiro. Sem nenhum proselitismo ou promessas de sucessos financeiros e esperanças passageiras, anunciou o que é sabido por todos, mas compreendidos por poucos: ter esperança, confiar em Jesus sem nenhuma vergonha, mesmo diante dos fracassos e insucessos. Acreditar na sua pessoa e Deixá-lo agir a sua maneira na vida. O Papa recordou a todos: crianças, jovens e adultos que numa sociedade marcada por um individualismo exagerado, uma descrença total da vida humana, é possível que ao menos os cristãos (a) demostrem ao mundo a possibilidade de viver bem se o amor próprio, a arrogância e outros déficits da vida estiverem de lado, para que na própria vida surjam vidas comprometidas umas com as outras. Não é possível em nosso contexto social, onde a tecnologia, os meios de comunicações cada vez mais acessíveis como também os desenvolvimentos sociais, continuarmos a agir como indivíduos altamente antissociais, pensando somente no ego e nas suas mazelas. Não é possível mais continuarmos acreditando que sozinhos podemos alcançar os objetivos da vida. A possibilidade perpassa pela colaboração e abertura mútua entre vidas e foi esta a atitude de Marta quando deixando seus afazeres corre ao encontro do Mestre ao avistá-lo e foi à atitude do Papa Francisco ao deixar suas atividades, mesmo sendo esta uma atividade programada, para vir e viver conosco, experimentar a nossa realidade e convocarmos a abrir nossos braços para a vontade de Deus, seja na concepção pessoal de cada individuo, mas sendo uma abertura franca, sincera e assumida com total “serviçalidade” as demais pessoas. O Documento de Aparecida, redigido Na V Conferência Episcopal da América Latina e Caribe no ano de 2007, os Bispos Católicos expressam em seu primeiro capítulo no artigo vinte e dois o seguinte: “A importância única e insubstituível de Cristo para nós, para a humanidade, consiste em que Cristo é o caminho, a Verdade e a Vida. “Se não conhecemos a Deus em Cristo e com Cristo, toda a realidade se torna um enigma indecifrável; não há caminho e, ao não haver caminho, não há vida nem verdade”. No clima cultural relativista que nos circunda, onde é aceita só uma religião natural, faz-se sempre mais importante e urgente estabelecer e fazer amadurecer em todo o corpo eclesial a certeza de que Cristo, o Deus de rosto humano, é nosso verdadeiro e único salvador.”(Conf. DA cap. 01§ 22). Pois bem, fica clara a comparação quando conseguimos entender a nossa sociedade como uma comunidade universal, onde todos precisam de todos e o todo se volta para um Deus que corresponda não sob nossas vontades, mas sobre nossas vontades de modo tal, que estas vontades estejam abertas horizontalmente para os nossos próximos.  Independente das crenças a atitudes referentes a Deus, a expressividade do Papa revelou a todos nós a possível mudança de pensar e agir frente aos desafios do mundo. Podemos sim, cada qual ao seu modo, assumir dentro de si a divindade filial que possibilita a sermos a cada tempo mulheres e homens de boa vontade e deste modo, acreditar que outro mundo é possível e que um novo pensar social há de acontecer. Portando, dizemos com o Papa Francisco: vamos e façamos um mundo de discipulados, de mulheres e homens ambos servidores uns dos outros sempre.

* Membro do IS Irmãos de Maria de Schoenstatt
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